As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 11 de setembro de 2011

Por que a Guerra?


Uma conversa entre Einstein e Freud... Inimaginável ??? Mas aconteceu. Em cartas. O ano, 1932 e sob o patrocínio do Instituto internacional de cooperação intelectual e da Liga das Nações.
O primeiro convidado, Einstein, escolheu Freud como interlocutor e o tema: ‘Como é possível livrar o homem da fatalidade da Guerra?’... Simples assim... Utilizando a contextualização histórica como embase de sua argumentação a resposta de Freud é uma viagem fantástica! O que mais se poderia esperar de mentes geniais?
Iniciaram a conversa, analisando as relações entre direito e poder, termo que Freud preferiu substituir por violência... Antagônicos por definição. Na opinião de Freud, o direito se originou como uma reação e tentativa de controle à violência do mais forte e seus desejos de jugo e dominação sobre os frágeis.  Estes se aglutinaram em razão de sua fragilidade na urgência pela sobrevivência.
E seguem... Como no reino animal, os conflitos de interesse se resolvem através da violência. Evidentemente, com a evolução da espécie e o desenvolvimento das sociedades humanas, a superioridade intelectual foi tomando o lugar da força física. Assim, a violência caminhou para o direito, já que a maior força de um poderia ser compensada pela união de vários fracos, sendo o direito a representação do poder dos unidos.
E surpreendentemente para muitos, Freud considera o direito uma forma de violência, que se volta contra todos os que a ele se oponham. Acresce-se à pluralidade, a diversidade e desigualdade entre os indivíduos de uma comunidade, gerando inevitavelmente relações de poder em seu interior. As conseqüências possíveis a um desequilíbrio, ou melhor, a busca de equilíbrio nas relações de poder, são bem conhecidas: rebeliões, guerras civis, entendidas como suspensão temporária do direito até a instauração de uma nova ordem jurídica.
Ambos concordam que uma segura prevenção às guerras é possível somente se houver uma instituição central, investida do poder necessário e à qual seja transferida a decisão em todos os conflitos de interesse. A quantas tentativas bem intencionadas e fracassadas já assistimos?  Para Freud é um erro de cálculo considerar que o direito, ainda hoje, possa prescindir do amparo da força.
E passa a analisar Eros e Tanatus, os instintos primordiais e sua relação com os valores de Bem e Mal... ’Partindo de nossa mitológica teoria dos instintos, é fácil chegar a uma fórmula para os meios indiretos de combater a guerra... Tudo que produz laços emocionais entre as pessoas tem efeito contrário à guerra’.  Lembrando que se refere a laços afetivos e amorosos, embora sem objetivos sexuais.
E sobre o abuso de poder:  ‘Inscreve-se na inata e inerradicável desigualdade dos homens o fato de eles se repartirem em líderes e dependentes’... ‘ deveria haver mais cuidado... em educar uma camada superior de indivíduos de pensamento autônomo, refratários à intimidação e buscadores da verdade, aos quais caberia a direção das massas subordinadas’.  Uma idéia que vai de encontro e extrapola os Poderes do Estado e a proibição do pensamento pela Igreja, naturalmente.
Enfim, Freud questiona e responde:  ‘Por que nos indignamos de tal forma com a guerra ?’
‘Porque todo homem tem direito a sua própria vida, porque a guerra aniquila vidas humanas plenas de esperança, coloca o indivíduo em situações aviltantes, obriga-o a matar outros, algo que ele não quer, destrói preciosos bens materiais, resultantes do trabalho humano e outras coisas mais’.
‘E quanto tempo teremos que esperar até que outros se tornem pacifistas?’
...’ Pode não ser uma esperança utópica, que a influência desses dois fatores, da atitude cultural e do justificado medo das conseqüências de uma guerra futura, venha a terminar com as guerras num tempo não muito distante’... E conclui: ‘Tudo o que promove a evolução cultural também trabalha contra a guerra’.
Em todos os tempos, pensadores, dominantes e dominados, preservacionistas e pacifistas - ainda que por razões de sobrevivência individual – buscaram e buscam formas e motivos para se atingir e instaurar a ‘Paz na terra aos homens de boa vontade’ e até para os má vontade, por que não? Há que se pensar sempre, até que se estabeleça, sejamos nós grandes ou pequenos pensadores...
(Reflexões in Sigmund Freud – Obras Completas Volume 18 Tradução: Paulo César de Souza  - Companhia das Letras -  Porque a Guerra – Carta a Einstein -1932 – Pags. 417 a 435)
11/09/2011

3 comentários:

  1. Monica, o Direito sempre foi meio de legitimação do poder no tempo em que está podendo. Instrumento de dominação. Sempre. Quanto mais é evoluída a mentalidade humana, porém, mais próxima da pacificação e, portanto, dita e legitima o Direito coletivo. Levo pra o meu mural um trecho do que vc colheu em Freud. Bravo @!√

    ResponderExcluir
  2. Rica indagações entre gênios Monica."Tudo que produz laços emocionais entre as pessoas tem efeito contrário à guerra".Enquanto PODER,esses laços são minguados e diluídos.Einstein,antes de morrer fez questão de colocar seu nome na lista dos favoráveis ao "desarmamento nuclear".Fica na nossa evolução individual e coletiva esta vontade de PAZ.Das guerras silenciosas entre as diferenças e nas guerras armamentadas.Bjus amiga

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir